sábado, 17 de abril de 2010

Ave Maria cheia de graxa.

Imagem: Américo Nunes

Ah, eu adoro um domingo. Fico em casa o dia todo só vendo o meu canal. SEN-SA-CI-O-NAL. A programação é tão diversificada, sabia? Tem de tudo. Entretenimento, culinária, esportes. É, meu canal é chic.Chico também gosta. Meu canal é diferente. Ele não mente. Ele não fica nem dentro da televisão. Mas é assim de televisão dentro dele. Meu canal é bom. Me traz bom-bom, jornal pra ler, tira gosto e prato principal. Mas às vezes ele é mal. Me dá medo. Aparece gente morta. Ixi! Viro logo o rosto guando vejo. Sei que não é de seu desejo. Mas fazer o quê? É nessa hora que todo mundo corre pra vê. A audiência dele vai láááá pra cima. Chove de vendedor em cima dele. Tudo fazendo propaganda de remédio, cerveja, óculos. Ixi! Gosto não. Vira uma confusão. Prefiro quando ele me traz as artes do mundo. Lááá no fundo é assim que ele é. Uma tela enorme, cheia de conformes, confins... Ai! Ele é assim. Num é fofo? Sim, sim...às vezes amanhece com cheiro de mofo, mas num deixa de ser fofo. Hehe. Ah! Ele é culto. Me cultua com obras de “Commédia Dell’art”, me fala de René Descartes, até prato “à la carte” já me trouxe. Oxe! É de dá orgulho. Eu me aproveito disso. Mergulho nele e tchibum! Ele me ganha e me banha como se fosse minha mãe...eu fico numa manha só. Meus sentidos ficam tooodos perdidos...adoooro. Viajo no universo desconhecido...adoooro. E quando volto... Cabum! Vejo que ta tudo mudado. Estranho. Cabum! O morro desmoronou. Meu juízo também. Cabum! O povo clama por água e por terra. Cabum! O povo clama a Deus e Deus manda água e manda terra. Cabum! Cabum! É chuva de terra! É guerra! É guerra! Barulho. Tiro. Sirenes. Irene. Irene, Irene? Nããão Irene, você não. Cabum! Cabum! Cabum! Cabou! Meu canal morreu. O morro desceu. Eu quase morri. Eu vi, eu vi. Irene não viu. Chico também não. Chiiiiiicoooooo! Meu canal não é mais chic. Não é mais lindo. Tá rindo?! Tá rindo?! Desce aí seu bosta. Tu gosta, né? Mas ele vai voltar. Vai, vai...zomba da minha fé. Ela é de ferro, pra seu governo. Governo? Hahahaha. Que governo? É inverno, num tem governo. Só quem olha aqui pra baixo é ela. Nossa mãe.

Ave Maria cheia de graxa.
Bendita é tua voz em meu ouvido.
Bendita é tua mão em minha cabeça.
Bendito é teu manto no meu pranto.
Bendito é o canto que vem do mar.
Maldita é a morte que vem me cantar.
Malditos são meus ouvidos que teimam em ouvir.

Maldita é minha cabeça que não para de cantá-la.

Maldito é meu pranto que não para de escorrer.

Vou correr! Vou correr! Eu não posso, eu não posso! Ave Maria cheia de graxa. Não se perde de mim. Me acha. Ave Maria cheia de graxa! Bendita sós voz no meu mundo. Ave Maria cheia de graxa! Bendita! És a voz dos mudos!



Salvem a Ama-zona!


Salvem o Perneta Terra!